quarta-feira, 9 de setembro de 2009

PEDRO I: O LIBERTADOR ESCRAVISTA




Independência ou Morte! Eis uma frase que está na cabeça dos brasileiros. Segundo a historiografia tradicional, essas palavras foram ditas pelo então príncipe Pedro I ao romper a relação política entre o Brasil e sua metrópole, Portugal, em 7 setembro de 1822. Essa versão dá a entender que Pedro I foi quem conduziu todo o processo da independência (política) do nosso país e se não fosse ele, o Brasil continuaria como colônia de Portugal até hoje. Em função disso, “as autoridades” insistem prestar homenagem a esse “grande líder” nacional. Será mesmo que essa homenagem é justa? O processo de ruptura política com nossa metrópole começou bem antes do dia sete de setembro de 1822. Desde o século XVIII, houve uma série de “revoltas” emancipatórias que contestavam o domínio português sobre o Brasil, principalmente, o Pacto Colonial. Desses movimentos, podemos destacar A Inconfidência Mineira (1789), A Conjuração Baiana (1798), A Revolução Pernambucana (1817) e Confederação do Equador (1824) no I Império. Portanto, dizer que Pedro I foi o “Salvador da Pátria” é um exagero e um total desconhecimento da nossa história. Pelo contrário, Ele mostrou-se um governante despreparado, autoritário, truculento e assassino. O povo brasileiro, durante o seu governo, continuou na mesma situação de pobreza e miséria que se encontravam antes da “independência”. Os três pilares que sustentaram nosso país por mais de trezentos anos (O LATIFÚNDIO, A MONOCULTURA E A ESCRAVIDÃO) permaneceram intactos.
Durante os nove anos como governante do Brasil, o nosso “libertador” cometeu vários erros como, por exemplo: mandou fechar a Assembléia Nacional Constituinte reunida para elaborar a nossa primeira Constituição, outorgou (impôs) a Constituição de 1824( a primeira do país) criando o poder moderador o qual mandava nos outros três poderes (mostrando-se um fervoroso adepto do absolutismo) e, nessa mesma carta magna, Pedro I, oficializou a ESCRAVIDÃO como a estrutura principal que sustentava o Estado brasileiro e afastou o povo das decisões políticas do país estabelecendo uma renda (oriunda da agricultura) para votar e ser votado. Na Guerra da Cisplatina, não teve habilidade para resolver esse conflito que acabou perdendo essa província que ficava no sul do Brasil e que hoje recebe o nome de Uruguai. Outra questão que evidenciou o governo de Pedro I foi autorizar a execução do revolucionário pernambucano Frei Caneca, “líder popular” da Confederação do Equador, em 1824. Devido à falta de habilidade política e despreparo como governante, Pedro I conseguiu a antipatia da maioria do “povo” brasileiro e, até mesmo, daqueles que o construíram como “libertador nacional e Defensor Perpétuo do Brasil”.
Outra coisa que muita gente não sabe é que a nossa Independência foi comprada por mais de 2 milhões de libras esterlinas pagas a Portugal para sermos reconhecidos como país “independente”. Uma verdadeira vergonha política. Outros países sul-americanos conquistaram suas independências através de lutas de libertação e adotaram o regime republicano de governo. Com o Brasil foi diferente. Além de pagar pela sua “independência”, a Monarquia continuou dando as cartas no nosso país. O dinheiro para o reconhecimento da nossa independência veio de um empréstimo feito aos ingleses dando origem a nossa dívida externa. O Brasil ficou “independente” de Portugal, mas ficou “de joelhos” diante dos ingleses. O imperador Pedro I governou o Brasil de forma truculenta obedecendo às regras do Estado português que sempre tratou a sua colônia americana com extremo rigor através do Pacto Colonial onde toda a riqueza produzida no Brasil era transferida para a metrópole lusitana. A função do Brasil era produzir alimentos e metais preciosos que tinham o objetivo de sustentar a economia e enriquecer o Estado e a burguesia lusitana. O Brasil foi construído para ser uma colônia de exploração e não uma colônia de povoamento como ocorreu com os EUA. Isso foi decisivo para o atraso político e econômico do nosso país. Quando Pedro I assume o poder no Brasil, essa condição de colônia de exploração ficou intocável. O nosso “libertador” era adepto desse pensamento que atendia os mandamentos do Mercantilismo, política econômica dos Estados Absolutistas do século XVI.

Na verdade, quem fez a nossa “independência” foram os grandes latifundiários, escravocratas e políticos habilidosos que tinham o interesse de governar o Brasil. Além de se sentirem ameaçados pela tentativa de “recolonização”, não queriam perder a liberdade de comércio, que foi conquistada com o fim do Pacto Colonial através da abertura dos portos as nações amigas (da Inglaterra) e a autonomia administrativa. O Imperador Pedro I e a Monarquia se tornaram uma pedra no caminho para essas pessoas. Tanto é que, ao conseguirem realizar esse “empreendimento”, tiveram o cuidado de não mexer nas estruturas que lhes davam poder, ou seja, o latifúndio, a monocultura e a escravidão. Além de não permitir o esfacelamento do território brasileiro como ocorreu nos outros países latino-americanos.
Com a “Independência”, o Estado brasileiro passou a pertencer aos ricos que até hoje tratam o nosso país como uma propriedade particular, como um bem de família. A tomada de poder, durante a Independência, pelos grandes proprietários rurais do Brasil vai se consolidar com a implantação da República através de um golpe militar contra a Monarquia em 1889.
O brasileiro (a maioria) por ter uma visão distorcida dos fatos históricos e por sua infantilidade política é levado constantemente ao ridículo, a se comportar como marionetes. A ignorância histórica dos brasileiros beira à incapacidade dos loucos de se adaptarem ao mundo real. São tratados como portadores de anencefalia e ratos de laboratórios pela maioria dos políticos brasileiros. A escola (pública) deveria reverter essa tragédia cultural imposta aos brasileiros, mas não é o que vemos. Ela mesma alimenta a ignorância popular confundindo alhos com bugalhos, sorriso com sonrisal! A escola (pública) não consegue fazer uma “assepsia” dessas distorções históricas na cabeça dos brasileiros. Não consegue filtrar as impurezas da historiografia tradicional. O povo vai à rua aplaudir “o desfile do dia sete” pelo simples fato de desconhecer a sua história, a história do seu país. No fundo, ele, o povo, não tem culpa! Ele age dessa forma porque foi assim que a escola lhe ensinou! A escola (pública) não consegue conscientizar e politizar o povo brasileiro!
O que fazer? Bom, existe uma alternativa interessante! Por que não comemorarmos nesse mesmo dia, o Grito dos Excluídos? Seria um bom começo e uma grande aula sobre política e cidadania. É um método revolucionário de educar pessoas e tem como objetivo transformar o indivíduo em cidadão. É a práxis na sua originalidade, no seu real sentido. No lugar de darmos ênfase a um evento nababesco que exige altas somas de dinheiro público para ser realizado, no Grito dos Excluídos, basta só à participação das pessoas. Não precisa de fantasias, nem pelotões. A fantasia do Grito dos Excluídos é a própria realidade do povo brasileiro e os pelotões são a grande massa de famintos, desempregados, sem-terras, sem-tetos, moradores de rua, enfim, são pessoas que a sociedade tenta esconder e o Estado brasileiro procura negar as suas cidadanias. O lema do Grito dos Excluídos de 2009 é: “Vida em primeiro lugar: a força da transformação está na organização popular”. É um tema que procura priorizar o que há de mais importante para o ser humano, a VIDA! O Grito dos Excluídos procura unificar todos os gritos por justiça, emprego, casa, terra, segurança, comida, saúde e educação pública de qualidade, contra a corrupção e impunidade política em todo território nacional numa só voz! O Brasil apresenta um alto índice de violência em todas as suas modalidades. Pernambuco é classificado como um dos estados da federação que mais pratica crime contra a vida e é o primeiro em assassinatos contra a mulher. Palmares não foge à regra! Só poderemos comemorar a nossa verdadeira Independência quando essas questões acima forem colocadas na agenda dos nossos governantes para serem solucionadas de forma definitiva. Enquanto essas questões não forem resolvidas, a comemoração da nossa independência deve ser tratada como uma farsa, um engodo, como uma independência forjada!

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