domingo, 9 de agosto de 2009

* PALMARES: UMA CIDADE CONTRADITÓRIA!

Há homens que já nascem póstumos. Assim falou o velho filósofo alemão Nietzsche. Eu vou mais além quando afirmo que há cidades e povos que já nascem póstumos. Palmares sendo fruto de um latifúndio se enquadra perfeitamente nessa observação, pois trás no seu rastro histórico, várias situações bizarras tanto dos seus governantes quanto dos seus habitantes.
Quando se fala em Palmares é costume lembrar os seus principais representantes, como por exemplo, Hermilo Borba Filho e Ascenso Ferreira como se a cidade dos Palmares orbitasse em torno desses dois cidadãos. Quando a cidade faz aniversário, as escolas e entidades culturais sempre homenageiam esses dois artistas, uma coisa enfadonha e chata. Embora lembrados constantemente, a maioria da população não sabe nada sobre a vida deles e que existiram!
Em minha opinião, se temos que prestar homenagem a alguém, então teremos que lembrar de uma personalidade palmarense que tem uma história que se confunde com a história do Brasil. Seu nome é Brivaldo Leão de Almeida. Mas, infelizmente, não é o que ocorre. Os homens honrados da nossa história não têm muito espaço. Um dia isso mudará! Brivaldo participou da Revolta Constitucionalista de 1932, da Intentona Comunista de 1935, conseguindo com isso a inimizade do Estado Novo, E também foi vitimado pelo Golpe Militar de 1964, sendo acusado de subversão e de colaborar com o comunismo. Um Educador muito capacitado que passou vários anos da vida em prisões. ele queria apenas uma educação igualitária e de qualidade para todos. Queria liberdade e igualdade numa sociedade mais justa e humana com a necessária distribuição de renda. Seria mais do que justo prestar uma homenagem a esse verdadeiro guerreiro palmarino que defendia a liberdade e cultuava o conhecimento.
No entanto, essas homenagens são dadas geralmente às pessoas que colaboraram com as injustiças no nosso município e até mesmo àqueles que colaboraram com o Golpe de 1964 em Palmares. Mas o absurdo não fica por aí. O desrespeito sangra nossa terra.
Prova esse desrespeito que a cidade tem com os outros, o fato ocorrido com o Rei do Baião Luis Gonzaga. Artista consagrado no Brasil e no mundo, homem ovacionado pela classe artística brasileira por ter conseguido levar a cultura e o drama do povo nordestino através da poesia das suas músicas para o mundo.
Em idos anos 80, o Rei do Baião veio à Palmares de Ascenso e Hermilo para fazer uma apresentação no Colégio Diocesano e quando o mestre Lua começou a cantar a música que diz: “o jumento é nosso irmão”, levou uma vaia jamais recebida por esse grande nome da música popular brasileira. Nunca o Rei do Baião tinha passado por uma situação dessas! Ficou revoltado, dizendo que já havia se apresentado em vários lugares no mundo, inclusive em universidades do Brasil e do exterior. Chegou até a dizer que nunca mais voltaria a cidade de Hermilo. Palmares teve a coragem e a ousadia de ser a primeira cidade do Brasil e do mundo, a ser protagonista de uma tragédia cultural desse porte!
E o engraçado é que hoje, Palmares presta uma homenagem ao Rei do Baião com uma estátua no pátio de eventos da cidade que leva o nome de “Pátio de Eventos Luis Gonzaga”. Um jeito de se desculpar pelas atitudes de uma platéia mal educada!
São essas coisas que levam Palmares a ter uma imagem negativa de destratar as pessoas de bem e tentar desmoralizar pessoas consagradas nas atividades que se destacam.
E pior é se omitir aos valores locais, como os artistas desamparados e sem incentivos, sem fomento para serem divulgados e cultuar suas artes! É uma espécie de ciúme coletivo. Esse comportamento entra em contradição com o hino da cidade que diz assim: PALMARES É TERRA DE CULTURA E GRANDEZA, NO MUNDO NÃO HAVENDO IGUAL ASSIM!
Acho que o poeta Milton Souto, quando escreveu a letra do hino palmarense, quis ironizar com a frase: “não havendo igual assim”, já que ele mesmo foi um dos que injustiçados na Terra dos Poetas. Como já foi dito, a Atenas Pernambucana costuma não valorizar os seus próprios artistas e seus intelectuais, exceto é claro, Ascenso e Hermilo (que precisaram sair da cidade, lutaram por reconhecimento lá fora para muito depois serem reconhecidos na sua terra natal).
Milton Souto, por sua vez, para ser reconhecido como o autor do hino da cidade, teve que se submeter a um concurso e ganhar, é claro! Mas mesmo assim, sua obra não foi reconhecida e divulgada como merecia. É uma dívida que Palmares tem com Milton Souto.
Houve uma época que fizeram uma homenagem a Milton Souto, colocando o nome dele numa escola municipal, mas para surpresa de todos, tiraram o seu nome do prédio escolar, pois o mesmo foi doado a um Órgão da Justiça. Isso só comprova que Palmares trata mal suas celebridades!
Outro caso interessante ocorreu com Frei Damião quando veio a Palmares. Ela era um grande religioso, uma pessoa bastante respeitada no mundo católico, principalmente pelas bandas do Nordeste. Era uma figura lendária e ao mesmo tempo santa para os nordestinos. Quando Frei Damião estava dando o seu sermão em frente à Catedral, depois de uma longa caminhada pelas principais ruas da cidade, de madrugada, ao levantar o Santíssimo para o público presente, ouviram-se berros e gritarias de pessoas bêbadas com copos nas mãos num bar ao lado da Catedral, chamado de O REDONDINHO. Aquele barulho chamou a atenção de todos presentes à Santa Missa. Os bagunceiros bêbados, continuaram a gritar. Quando foram advertidas pelo próprio Frei, não levaram em consideração e passaram a chamá-lo para tomar cachaça com eles. Essa proposta deixou os fiéis indignados. Foi quando Frei Damião disse: “- Palmares é uma terra amaldiçoada. Aqui tem uma escuridão. Nunca mais eu voltarei a Palmares enquanto vida eu tiver!” E completou: “vai dar uma cheia em Palmares que lavará o piso da Catedral.”
Maldição de homem santo pega mesmo e não se sabe se foi a cheia de 1975 ou se foi a de 2000. De qualquer forma, a profecia se realizou! O mesmo morreu e nunca mais pisou na terra dos poetas. Palmares conseguiu desmoralizar um “SANTO”, coisa jamais vista em lugar nenhum do mundo!
Esses dois exemplos nos mostra que a terra de Hermilo e Ascenso parou no tempo. Cultua-se o velho sem abrir os espaços necessários os outros artistas e para as novas gerações. Quando isso mudará?

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